terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Educação é Liberdade

Quero continuar a acreditar que é pelas palavras e não pelas balas que se operará a verdadeira revolução. Reside na ponta da caneta e não na ponta do fuzil a capacidade de mudar a sociedade. Para tal a informação deverá ser democratizada e chegar a todos. Não podemos mantê-la como uma coutada, ao alcance apenas de alguns privilegiados com maior formação e mais despertos para as questões políticas e sociais. As reuniões, congressos, debates ou o que for, que se realizam de norte a sul do país, terão necessariamente de extravasar as paredes que as confinam e saltar para o espaço público, formando assim corrente de opinião.
A voz do povo tem de ser a voz da mudança. Mas para que isso surta efeito é preciso formar a população. Não no sentido condescendente do termo, mas munindo-a dos princípios necessários para fazer uma análise crítica e construir uma opinião. A voz isolada de cada um nada consegue. É muda no panorama social. Mas juntando-se cem, mil ou milhão, tornar-se-á no clamor que exigirá uma sociedade mais justa e solidária.
Por isso, nada é tão atentatório da liberdade de um povo e do seu caminho para a construção de um ideal de sociedade mais equitativo, do que a ofensiva que se vem revelando ao Ensino e à Escola Pública. Pondo em causa a educação do povo espera-se criar carneiros sempre prontos a obedecer a meia dúzia de latidos governamentais ou ao cajado de um qualquer pastor troikista, quando o verdadeiro objectivo deveria ser a formação dos homens e mulheres de amanhã, com espírito crítico e atentos à sociedade que os rodeia. Só assim serão verdadeiras mais-valias na evolução do país e no seu desenvolvimento económico sustentado (e sustentável).
A ideia de que precisamos de uma população activa ignorante e mal paga, que sobreviva no limiar da escravidão, fez e faz doutrina entre algumas elites dominantes. Urge quebrar esse vício secular, devendo para o efeito apresentar-se exemplos cabais de que o conhecimento e formação são indiscutíveis trunfos para uma classe trabalhadora mais eficaz. O tão aclamado fenómeno irlandês constituí um óptimo exemplo de um país que, com um ordenado mínimo 3 vezes superior ao nosso e uma mão-de-obra qualificada, está a atrair investimento estrangeiro, nomeadamente no que concerne às empresas ligadas à tecnologia e internet. Por lá fala-se de previsões de crescimento que Portugal nem em períodos prósperos experimentou.
O extinto colectivo musical Da Weasel, oriundo de Almada, cantava no início da sua carreira as seguintes palavras no tema “Educação (é Liberdade)”: 
É mais forte o homem que sabe criar um filho / Do que aquele que apenas prime um gatilho.                        
É mais fácil matar que ler um livro, verdade? / Mas a bala é a prisão, educação é liberdade.”
Não sendo mais que uma metáfora relativa ao abandono escolar e à indigência intelectual, é representativa daquilo que podemos esperar de uma população limitada no seu percurso académico. A restrição do ensino e o pré-condicionamento das escolhas pessoais é feita de inúmeras formas. Através de uma avaliação estúpida da classe docente, da realização de exames nacionais aos alunos, da modificação constante dos programas escolares, do dogma do ensino profissional, do preço dos manuais escolares... Todas estas barreiras têm como objectivo esvaziar a qualidade que, apesar de tudo, se vai reconhecendo ao ensino público e dificultar a progressão e continuação dos estudos. A conclusão do ensino obrigatório (e gratuito!) com sucesso é a qualificação mínima devida a qualquer cidadão, para que este possa estar munido do indispensável para poder pensar o seu país e o mundo de uma forma capaz e coerente. Privar alguém disto é condená-lo a uma espécie de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional...
17 de Dezembro de 2013
Miguel Dias