sexta-feira, 25 de abril de 2014

Consenso e Alternância

É preciso consenso! Consenso para acabar com o Estado Social. Consenso para extinguir a Escola Pública e exterminar o Serviço Nacional de Saúde. Consenso para privatizar os correios e os transportes públicos, a água e a electricidade. Consenso para dificultar ainda mais o acesso a bens essenciais por parte do povo que os elege. É preciso consenso para aplicar um modelo económico que em nada favorece o país. Para manter uma moeda única que nos arrastou para o bueiro, jamais discutindo a sua arquitectura ou reformulação. Consenso para nada esperar e obedecer cegamente a uma ditadura financeira que nos é externamente imposta. 
É preciso consenso para sermos inertes. É preciso consenso para fingir agitar tudo, deixando no fundo tudo na mesma...
Mas agora é preciso mais. É preciso alternância! Atenção: não confundir alternância com alternativa. Este último termo é demasiadamente democrático.
Alternância entre um PSD, que de social democrata só ostenta a denominação, e um PS, que se disfarça de socialista. Com ou sem a muleta política do CDS, que apregoa aos quatros ventos os seus princípios morais, mas rapidamente os esquece quando chega ao poder, envolvido sempre em sombrios esquemas irrevogáveis.
A alternância que nos conduziu a este estado de coisas. A alternância entre empobrecer e "ajustar", entre "flexibilizar" ou despedir. A alternância entre o injustificável e o incomportável. A alternância entre um governo cego e um governo autista. A alternância entre cortar ou delapidar.
A alternância que nos trouxe à descredibilização dos partidos políticos e às dúvidas que pairam sobre o próprio sistema democrático. Essa alternância não serviu, não serve e não servirá aos portugueses.
Mas existe uma alternativa. Que se crie um consenso natural em torno do único documento transversal a todo o espectro político nacional - a Constituição da República Portuguesa. E se todos os agentes políticos respeitarem este documento fundamental, que juraram defender, a alternância será mais ou menos pacífica.
Quando o consenso e a alternância se fizerem no âmbito da Constituição, poderemos finalmente concretizar Abril.