sábado, 27 de setembro de 2014

Qual o Preço das Nossas Vidas?

Passaram pouco mais de 3 anos do dia em que descobrimos que o país estava para fechar. Com base nessa ideia, Portugal entrou em fase de liquidação. No fundo vendia-se um país inteiro, com pessoas a sério lá dentro, a preço de saldo. Para evitar esse destino foi negociado um empréstimo extremamente lesivo para os interesses nacionais, com uma troika cuja legalidade é altamente suspeita.
Depressa percebemos que era tudo bem baratinho. Bastava baixar os nosso ordenados, devolver a precariedade às nossas mulheres, os nossos filhos não ter professores e os nossos pais verem cortadas as reformas... E assim foi. E assim continua a ser. Mesmo depois da troika sair, foi-nos prometido que a sua presença continuaria por algumas décadas. Os mercados ficaram logo mais descansados e as pessoas mais desesperadas. A célebre dicotomia o Portugal está melhor, os portugueses é que estão pior.
Mas nada que uma bela operação de charme não resolva. Foi anunciado com pompa e circunstância, o aumento do salário mínimo para €505,00. Pouco importa se esse era o valor (acrescido de uma bonificação de €5,00) que deveria vigorar desde Janeiro de 2011, ou seja quase 4 anos atrás, rasgado que foi o acordo de concertação social assinado em 2006. Mais uma vez se realça o cumprimento das obrigações tão propalado pelo executivo... Mas apenas quando os compromissos são internacionais. Para o povo português a relação de confiança pode ser olvidada vezes sem conta que pouco importa.
Este recente acordo é conseguido à custa de uma redução da TSU para os empregadores de 0,75%. Isto quer dizer que foi preciso lançar uma cenoura aos patrões para conseguir um ridículo aumento que só peca por tardio, num ordenado mínimo miserável. Mas esse valor reduzido na TSU será injectado na Segurança Social através do Orçamento de Estado. Mais uma vez pagamos todos e os de sempre passam entre os intervalos da austeridade. Tenho vergonha de dizer que o dinheiro das minhas contribuições ajudam a perpetuar o "escravizante" Salário Mínimo Nacional.
Faz-se passar a ideia, que este acerto na TSU beneficiará principalmente as micro e pequenas empresas. Nada mais falso! O valor que empresas poupam com esta medida não chega aos €4,00 por funcionário ao mês (como dizia o outro é fazer as  contas). Duvido muito que sejam valores destes que dêem a necessária folga de tesouraria. Em contrapartida os grandes empregadores podem ter aqui um encaixe interessante.
Bastava que este acordo envolvesse outras premissas para que o aumento pudesse chegar facilmente a 40 ou 50 euros. Se em cima da mesa fossem colocados os verdadeiros custos de produção, isto é os custos energéticos e de transportes, estou certo que todas as confederações patronais estariam muito mais dispostas a negociar. Mas falar em baixas de custos energéticos é assunto tabu, pelo menos desde o abandono do Álvaro... Os grandes interesses confortam-se e protegem-se, numa tocante manifestação de solidariedade financeira. 
«Mas olha que €20,00 é melhor que nada...» Ora cá está a "la paliceana" verdade! Depois de anos a fio a diminuir o poder de compra dos trabalhadores, esta afirmação é escandalosa. Anos em que inclusive, alguns grandes grupos económicos aumentaram os seus lucros. Seria pedir muito contribuir um pouco mais para a sociedade, conseguindo-se um aumento do salário mínimo para um nível um pouco mais dignificante? Convém não esquecer que sem dinheiro o povo não consome e um dia o "milagre" das exportações cessa e aí o que farão as nossas empresas?Atenção que o que me choca não é o aumento do salário mínimo em €20,00, mas o facto do mesmo ter ficado congelado quase 4 anos!
A austeridade é a principal responsável pelo aumento das desigualdades e disparidades salariais. Em épocas de crise, as pessoas parecer ser algo descartável. A pressão sobre o mercado laboral é grande demais e assim o determina. É vulgar dizer que uma vida humana não tem preço. Em Portugal, pelos visto, são mais ou menos €20,00...