quarta-feira, 2 de julho de 2014

MAIS OU MENOS LIVRE?

Esta era a declaração política que tinha preparado para a 2.º Assembleia do LIVRE, realizada no dia 21 de Junho de 2014. Reflecte a minha posição face aos recentes acontecimentos internos e vincula apenas a minha pessoa e mais ninguém:

É minha firma convicção de que todos aqui somos livres. Quanto à questão de sermos LIVRE, com maiúsculas e tudo, isso já tenho sérias dúvidas… Mas eu ignorante e inexperiente me confesso. Talvez até um pouco tosco… Costumo identificar-me como um taberneiro com alma de passarinho. E se calhar não consigo visualizar tão longe como as minhas asas alcançam. No entanto, hoje faço ouvir a minha voz, para dizer tão-somente que sou LIVRE, com maiúsculas e tudo! Sabemos que a liberdade em toda a sua plenitude, como conceito puro, será sempre uma utopia e, esta sim, impossível de pôr em prática. Portanto, temos de viver o nosso dia-a-dia negociando consensos, respeitando assim as liberdade alheias. Isso também tem de ser verdade no interior do partido. Até porque ele não serve para ser palco para uma uma espécie de competição de egos. O seu propósito é muito maior que isso e não se coaduna com agendas pessoais.
O LIVRE tem uma génese – o Manifesto Por Uma Esquerda Livre – patente nos estatutos no seu Artigo 2.º. E esse Manifesto teve promotores. Entre eles estão André Barata, Marta Loja Neves, Renato Miguel do Carmo e Rui Tavares. Todos estão ligados ao LIVRE e fazem parte dos órgãos partidários. E isto faz todo o sentido. Não podemos olvidar que são eles (entre outros) os primeiros responsáveis por estarmos aqui todos neste dia, a fazer política, a discutir o rumo que queremos para a Democracia. Merecem o nosso maior respeito e admiração e não serem vilipendiados a cada vírgula que expressam, a cada atitude que tomam.
Os órgãos do LIVRE foram eleitos em Congresso de 1 de Fevereiro de 2014. Por sufrágio secreto, sem pressões e, na altura, sem oposição. Em menos de 4 meses trouxeram mais de 70 mil portugueses à sua órbita, numa época em que se fala na descredibilização da política e dos seus agentes. Este resultado nas europeias terá sido uma derrota, no sentido da não eleição de qualquer deputado. Mas pode e deve, também ser encarado como um dado positivo, pois conseguimos arrancar 70.000 eleitores do sofá, convencendo-os a votar LIVRE. Dos Zero aos Setenta Mil em menos de 4 meses! Até dava um bom slogan… Mas o que dá acima de tudo é uma esperança enorme a todos os amadores, ignorantes e inexperientes membros e apoiantes deste partido.
Não me compete a mim fazer juízos de valor sobre as pessoas que constituem o Grupo de Contacto, o Conselho de Jurisdição ou a Assembleia do LIVRE. Deixo para outros tais empresas. A mim move-me tanto a urgência, como os princípios do LIVRE. Já o disse e repito que revejo-me e comprometo-me com todos os documentos emanados do LIVRE e votados pelas suas bases. Nem poderia ser doutra forma. O dever de camaradagem a isso me impele. Estas são as regras que eu aceitei, para entrar neste jogo. Mesmo quando voto vencido tenho de ficar ao lado do LIVRE, por uma questão de princípio. Quem não está disposto a fazer este tipo de cedências terá de fazer um exercício de auto-crítica e aperceber-se do projecto que decidiu abraçar. Ninguém disse que a democracia interna iria ser fácil. Neste ponto tenho uma posição moderadamente radical.
Assim, e partindo do pressuposto que o LIVRE continuará fiel aos seus pilares constituintes: Liberdade, Esquerda, Europa, Ecologia; continuarei com certeza a sentir-me bem num partido onde, espante-se, se sufragam Estatutos e Programas Políticos. Após essa aprovação, essa letra deverá fazer lei entre camaradas. Não pode haver um 2.º caminho nesse ponto. A abertura é total na execução dos documentos, mas depois de emendados, corrigidos e votados, terão de ser respeitados por todos. É claro que haverá sempre espaço para melhorar e enriquecer um ou outro documento. Mas alterações plausíveis deverão ser tratadas da mesma forma. Não é vociferando que isto está tudo mal que poderemos chegar a um qualquer consenso e melhorar as nossas posições. Não é exigindo “respostas musculadas” ao Grupo de Contacto sobre todo e qualquer assunto, e o seu contrário em vários casos em que comunicados são exarados, que se fortalecerá o LIVRE aos olhos dos eleitores. Até porque o partido aparece com o intuito de tentar a convergência à Esquerda e não criar mais ruído ainda. Neste aspecto sou radicalmente moderado.
Chegados aqui hoje percebemos que o LIVRE é de TODOS. Lá fora começam a vislumbrar essa realidade. É um partido feito entre iguais, ao contrário da imagem elitista que nos tentam colar, onde ninguém deverá arremessar o seu canudo a um camarada. É um partido que quer ter uma “relação honesta com o conhecimento” (Carlos Teixeira o diz), mas que deve aplicar igual nível de honestidade nas relações internas de camaradagem. O convívio deverá ser sensato e cordial, que não é o mesmo que dizer que nos devemos pautar pela falsidade e hipocrisia. Não! As críticas são para ser feitas em local próprio, olhos nos olhos. Deste processo surgem invariavelmente soluções mais ricas e duradouras. Por o LIVRE ser de TODOS, deixou de ser aquilo que nunca foi – o partido do Rui Tavares. Desculpa-me camarada, mas esse barco já zarpou e estou certo que não deixa qualquer espécie de saudosismo em ti. O LIVRE é um partido, como já disse que não se revê nesta lógica de liderança. Não é do Rui Tavares, tal como não poderá vir a ser de ninguém. O LIVRE é a “Cantiga da Rua” do espectro político nacional. Não pode ser um veículo para propalar ambições pessoais. É democrático demais para sofrer com estes tipos de tacticismos. O LIVRE tem órgãos próprios e estruturas eleitas. É dirigido por uma equipa de 15 pessoas, denominada por Grupo de Contacto. Fizeram, fazem e farão o seu melhor em prol do partido e essencialmente do que ele representa. Dir-me-ão que o seu melhor não é suficiente. Respondo que o tempo será o melhor juiz nessa matéria. Quando chegar ao fim do seu mandato, o Grupo de Contacto será sufragado pelo trabalho que desenvolveu e nós seremos os avaliadores. Por isso sou frontalmente a favor de um Congresso Ratificativo que legitime as decisões tomadas democraticamente e frontalmente contra um Congresso Electivo que atrase a implantação do LIVRE na sociedade.
Alguém já me disse que o grande problema do LIVRE é a sua enorme abertura. Efectivamente, a sua maior virtude poderá ser também o seu maior defeito. Mas eu acredito, e quero continuar a fazê-lo, que estou entre pares. Quero continuar a acreditar que os camaradas que aqui estão põem o interesse do LIVRE, acima do seu interesse pessoal. Quero continuar a acreditar que ambicionamos para o país, mais e melhor Portugal. Por continuar a acreditar em tudo isto, e estar firmemente convicto que o LIVRE é um projecto de superior interesse nacional, eu não trocaria a nossa forma de fazer política por nada!

Viva o LIVRE!

Montijo, 19 de Junho de 2014

Miguel Dias