segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Roubos de Dignidade

Não sei se tenho urgência, se tenho decência ou nenhuma das duas. O que sei é que não posso mais assistir impávido e sereno, enquanto esta corja afunda fundo no meu bolso e leva o resto da minha dignidade. Há tempo demais que me andam a explicar que vivo muito acima das minhas possibilidades. Por isso mesmo diminuíram o meu salário, aumentaram os impostos e cortaram as prestações sociais. E eu “ajustei”. Nem tanto à grande e à francesa; mais à bruta e à alemã! E é incrível como isto tem facilitado o cumprimento escrupuloso dos meus compromissos nos últimos anos.
Estou certo que com a maioria de nós aconteceu o mesmo. Poderá ser este o tal milagre económico que algumas vozes alvitram? Ou se calhar somos todos personagens daquela famosa série “A vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor!”
De indicadores que nada indicam estamos todos fartos. Foram discursos vazios e promessas vãs que nos conduziram ao actual labirinto. Um labirinto onde seguimos o ténue cheiro a queijo, fazendo o caminho que nos está a ser traçado pelos interesses instituídos e pelos mais ricos da “estranhamente solidária” União Europeia.
Mas há alternativa! Há sempre alternativa. Forçar as paredes do labirinto e encarar a liberdade. Este esforço tem de ser conjunto, pois não é fácil encarar a liberdade. Não é simples descobrir que temos escolha. Que a ideia que nos vendem do fatídico caminho único e austero pode ser sempre contraposta pela ideia do caminho mais solidário. O caminho onde os mais fortes ajudam os mais fracos; em que lhe lançam a mão amiga ao invés de uma bota cardada…
Este terá de ser o caminho que levará os PIGS a saírem da pocilga da crise e da austeridade em que se vêm atolados. O tempo em que estes concertam uma estratégia comum, para um rumo alternativo da União. A hora em que se contrapõe o crescimento sustentável ao desmesurado; o momento em que finalmente se compreende que a defesa de todos os europeus, da sua dignidade, é mais importante do que os lucros de 3 ou 4 multinacionais.
Não sei se tenho urgência, se tenho decência ou nenhuma das duas. Sei que o tempo de começar a fazer alguma coisa já passou. Sei também que nos iniciámos com ele e que temos feito o nosso percurso incansavelmente. Também sei que somos poucos e precisamos que muitos mais se juntem a nós; todos os que partilham da ideia que é necessária uma onda de fundo progressista para abalar os alicerces destas políticas suicidárias. Pelos vistos até sei algumas coisas… Mas tenho plena consciência de que é muito mais o que desconheço. Por isso preciso, precisamos, desta União. Deste grupo que nos permite elaborar uma alternativa credível baseada na salvaguarda de cada indivíduo, almejando uma Europa mais solidária, um crescimento ambientalmente responsável e um entendimento bem claro que ser de Esquerda é amar a liberdade e defender a humanidade; e entender que a necessidade de circunstância, nunca poderá comprometer a substância. Para que cessem, de uma vez por todas, os roubos de dignidade…

Montijo, pela manhã do dia 25 de Outubro de 2014 

sábado, 11 de outubro de 2014

MCM | Movimento Cívico Montijo - O Manifesto / 1.ª Iniciativa





Amanhã, dia 12 de Outubro pelas 15 horas terá lugar a 1.ª acção do MCM. Será uma caminhada pela cidade do Montijo com o intuito de sinalizar pontos para futura intervenção cidadã. O local de encontro será o Coreto da Praça da República. Queira o tempo ajudar. Identificar prioridades e em conjunto pesar Montijo.
MCM - juntos por mais e melhor Montijo!


MANIFESTO
O Movimento Cívico Montijo (MCM) surge da reunião de um grupo de cidadãos que têm em comum um espaço geográfico, que é simultaneamente uma paixão e um motivo de preocupação – o Montijo.
O objectivo do MCM é contribuir para a melhoria do território, através de acções simples e executáveis sem qualquer encargo financeiro para os participantes. Apenas é solicitado algum do tempo livre de cada um e o empenho necessário à prossecução das tarefas.
O MCM pautará a sua conduta pela realização de iniciativas que visarão uma melhoria efectiva na qualidade de vida da população do Montijo.
Todas as acções levadas a cabo pelo MCM serão divulgadas publicamente; de forma atempada e programada. Assim sendo, estaremos sempre de portas abertas à participação dos populares que desejem fazer parte das mesmas, pois apenas com a participação activa da população de Montijo, este Movimento poderá ser uma realidade.
Em suma, o MCM conta com todos os montijenses que pretendem fazer da antiga Aldeia Galega do Ribatejo um espaço melhor para viver e trabalhar. O facto de residirmos numa terra com 500 anos de história, não implica vivermos na Idade Média.
O percurso que agora se inicia será sinuoso e contará com alguns obstáculos levantados pela habitual inércia do nada fazer. Mas estamos certos que ainda restam muitas pessoas que conhecem o potencial que o Montijo encerra e que pretendem tirar o melhor partido do mesmo, para si e para as gerações vindouras.
Para memória futura, o MCM manterá um registo audiovisual de todas as iniciativas que promover, que posteriormente será difundido pelos canais mais apropriados para o efeito, evitando desta forma que o tempo apague o esforço de todos os montijenses que abraçarem esta causa.
Juntos por mais e melhor Montijo. É tempo de dar as mãos e lutar pela nossa Terra.
Montijo | Setembro de 2014
Os Promotores:
João Carlos Peres | Luís Bordeira | Miguel Dias

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Meu filho perdeu um professor...

Ainda não havia começado o ano lectivo e o meu filho já tinha perdido um professor. Cedo se percebeu que afinal tinha perdido dois… Nada de grave, segundo a tutela. «Um erro apenas. Pedimos desculpa e asseguramos que a normalidade será retomada dentro de momentos.»
Formalizado o ridículo lamento e elaborada nova listagem de docentes, meu filho descobriu que afinal agora tinha perdido três professores! Gentes de Coimbra ou de Vila Real, que após terem andando com a “casa às costas”, num autêntico contra-relógio logístico para estarem devidamente instalados para o início do ano lectivo, vêm vedado o direito ao trabalho e aberta a porta da incerteza. Pessoas e vidas concretas que se viram forçadas a optarem entre a sua residência ou a sua vocação para leccionar. A isto o iluminado Secretário de Estado da Educação Casanova responde que compreende a situação, mas afirma que legalmente não existe nenhum mecanismo que possa defender estes professores e compensá-los de todos os imponderáveis. Diz que há sempre a via judicial… Como se alguém a quem acabam de abrir a porta do desemprego ou perpetuada a indigência precária pensa-se em recorrer ao Tribunal.
Meu filho perdeu um professor, não dois, perdão três. E parece que é um sortudo. Ao invés, turmas existem no seu agrupamento que têm colocados apenas três professores. Alguns agrupamentos voltaram a fechar e outros ainda nem abriram. Mas o que nos ensinam estas intermitências? Que a precariedade veio para ficar. Que a aposta em descredibilizar a escola pública é bem real. Que as nossas crianças e jovens não votam, logo não contam. Que os pais sempre se remedeiam ou não fosse o “desenrascanço” uma “virtude” nacional. Que a educação é um privilégio.
Desenganem-se aqueles que pensam que o problema está apenas no corpo docente. O pessoal auxiliar é cada vez menos e multiplica-se em esforços para satisfazer todas as solicitações. Esta é outra pecha no sistema educativo. Primeiro veio a desregulação do pessoal não docente e a sua precarização, depois o “ajustamento” dos quadros, agora o desprezo total. Como se uma escola para funcionar condignamente, com um corpo docente empenhado em ensinar os nossos filhos, fosse uma espécie de teatro divino espectralmente ensaiado, uma obra do acaso.
Tudo isto é orquestrado por um sinistro Ministro da Educação que em tempos falava com ódio dos burgueses e agora aposta no «aburguesamento» da escola pública. A pretensão que as escolas funcionem como empresas ou o cheque-ensino são exemplos disso mesmo. Ideias que até mereceram honras de «guião» por parte do Vice-Primeiro-Ministro. Crato diz apostar num modelo de disciplina e rigor para a escola pública, que não consegue implantar no seu próprio Ministério. Patético…
Meu filho perdeu um professor, não dois, perdão três. Um acho que foi avistado no Algarve, outro nas Berlengas a ensinar matemática num santuário de aves marinhas. O terceiro está em parte incerta. As Direcções dos agrupamentos não sabem o que fazer, obrigadas que estão a assinar de cruz estranhos despachos que as oficializam como responsáveis de situações que não criaram. Ouvem os berros dos pais, o desespero dos professores e vêm frustrados os seus esforços para ensinar e orientar os nossos filhos, tornando-os pessoas apetrechadas das ferramentas necessárias para «ler e calcular» o Mundo. Essa que deveria ser a tarefa mais nobre da escola perde-se no empecilho burocrático, no erro, na incompetência ministerial.
Evidentemente, que os erros no sistema educativo não são de agora. Começaram antes deste Governo e continuaram após o mesmo. Mas o caminho que estava a ser trilhado até há meia dúzia de anos da progressiva melhoria qualitativa da escola pública está agora a desaparecer debaixo dos nossos pés. Esse caminho estava a ser construído em conjunto com os trabalhadores docentes e não docentes que em troca viram “descategorizadas” as suas funções e aumentada a sua precariedade. Chegando-se ao cúmulo de existir agora um tratamento desigual entre professores, sendo uns qualificados tacitamente e outros propostos a exame.
Meu filho perdeu um professor, não dois, perdão três. Possivelmente pela manhã quando chegar à escola descobrirá que perdeu mais alguns. E eu dissertarei sobre que país é este, que quer ser desenvolvido e moderno e que não cuida da educação dos seus mais novos. Que não cuida do seu próprio futuro. Que não defende a educação e muito concretamente a escola pública, universal e gratuita, como pilar essencial do progresso e desenvolvimento que se alvitra.
Meu filho perdeu um professor, não dois, perdão três. Mas descobriu que seu futuro está na charcutaria, pelo seu vil contributo na alimentaçãoda «salsicha da educação», segundo definição do eloquente Primeiro-Ministro. Meu filho é presentemente um enlatado! Só espero que o futuro não o transforme em entalado…
Montijo, 7 de outubro de 2014