sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A VIOLÊNCIA VERBAL E O DISCURSO DO VAZIO


“Os homens não têm de ser verdadeiros, têm de fazer sentido.”


O subtítulo está entre aspas porque não é meu… É uma frase “roubada” a André Barata, constante na sua obra Intimigrafia. Não conseguiria de forma alguma transcender-me a tal ponto, pois sou demasiado mundano e agarrado à realidade.
Embora numa primeira leitura esta máxima me parecesse desprovida de lógica, numa observação mais atenta reconheci-lhe uma coerência própria. Com efeito, a descodificação deste conceito leva-me à conclusão de que os homens (ou mulheres) deverão ou ser verdadeiros ou fazer sentido. Dificilmente os homens que forem verdadeiros não farão sentido, pois é algo inato à própria condição. Mas fazendo sentido não quer obrigatoriamente dizer que serão verdadeiros. Até na falsidade pode haver coerência…
Na sociedade actual pululam os exemplos em que não é respeitada nenhuma destas regras. A incoerência é tomada como uma espécie de placebo para todos os males. Os diferentes pesos normalmente usados para quantificar problemas análogos fazem multiplicar a quantidade de balanças, embora a unidade de medida seja invariavelmente a mesma – a violência. Venha ela na forma física ou verbal.
Se na sua forma física, a violência tem sido criticada pela generalidade da sociedade, já a forma verbal é estranhamente tolerada. Talvez no medo constante da cartada da censura ser lançada sobre a mesa. Mas a condescendência com este tipo de reacção faz-nos cúmplices do acto vil que é perpetuado.
O combate ideológico é nobre. O confronto de questões e soluções é fulcral na criação de modelos abrangentes que visem o progresso social. Mas até que ponto a opinião vazia, o discurso desprovido de conteúdo pode ser encarado como positivo num debate que se quer profícuo? Será realmente correcto apelidar de censura o apontar o dedo a estes “sabotadores” ideológicos? A sua retórica resvala invariavelmente para o populismo, a demagogia, o ataque pessoal. Esse é um péssimo serviço à Democracia e um atentado à Liberdade de Expressão.
A violência verbal é, provavelmente, aquela que mais agride. Não falo somente dos impropérios ou injúrias. Com o ataque pessoal é fácil lidar – meter para as costas e continuar o caminho. Agora com o afrontamento ao intelecto por parte do vazio, com a passagem de certificados de ignorância, com a ostentação de uma pretensa superioridade intelectual, já se torna mais difícil. É fundamental parar este discurso verborreico. Pactuar com estes actos não deve fazer parte da filosofia de vida de alguém, por mais que digam que se comprará mais guerras do que se tirará proveitos. Aguentar pacificamente estas atitudes, não é uma opção. Desmascarar a mentira e enfrentar a incoerência deverá ser uma preocupação de toda a sociedade.
Aqueles que eternizam uma discussão até ao fastio sem apresentarem ideias ou tão-somente um fio condutor, nada contribuem para o esclarecimento das inúmeras questões com que a sociedade moderna se depara. Desta forma, violam os princípios do debate honesto e enriquecedor. Estamos perante pessoas que se pautam por uma conduta que certamente não é verdadeira e muito menos faz sentido. Não respeitando qualquer das categorias enunciadas, que espaço poderão ocupar na condição humana?

15 de Agosto de 2014

Miguel Dias

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Declaração de candidatura à Assembleia do LIVRE - 01/Fev/2014

Esta foi a minha declaração de candidatura a membro da Assembleia do LIVRE, no dia 1 de Fevereiro de 2014, no Congresso Fundador no Porto. Passados que estão mais de 6 meses, estas palavras continuam a fazer para mim sentido. Sim, é a tentativa de construção de uma sociedade mais solidária que me trouxe a um papel mais activo no plano político, logo ao LIVRE. Hoje, dia 7 de Agosto de 2014, o meu estado de constante inquietação mantêm-se e enquanto este não for acalmado, não desistirei. Para que a realidade deixe de ser absurda. 

Segue a declaração:
   

Por defeito (ou efeito) de formação, acredito que o caminho para um futuro melhor só pode ser feito através do desenvolvimento do país, mas não um desenvolvimento qualquer. Este deverá ser ponderado e sustentável. A redução de assimetrias e a componente ecológica deverão ser 2 factores fulcrais no modelo a implantar. 
Identificando-me como uma pessoa de esquerda, a faceta social teria de estar presente nas minhas preocupações prementes. Actualmente vivo num estado de constante inquietação. O ataque ao Estado Social, aos Direitos Laborais, às Reformas e Pensões, ao SNS, à Escola Pública e por aí fora deixa-me num desassossego atroz e marca vincadamente um sentimento de injustiça que persegue sempre os mesmos, para beneficiar muito poucos. 
Por tudo isto e muito mais, não consigo continuar parado. É altura de tentar fazer mais do que a crítica e a profecia de ocasião. É preciso dar a cara pelos ideais que defendo (defendemos) e tentar proteger aqueles que não têm voz. Pela defesa de uma sociedade mais justa e igualitária.

domingo, 3 de agosto de 2014

A nova BESta negra da finança nacional

É até provável que o BES consiga o tal aumento de capital e seus índices de solvabilidade estejam protegidos. Beneficiará certamente de capital público (do fundo da troika presume-se, mas suportado por nós), para conseguir se reerguer, e o reembolso dessa verba com juros acabará até por ser um bom "negócio" para o Estado. A intrincada rede de associações financeiras construída ao longo de décadas, fez do banco um monstro que é simplesmente grande demais para deixar cair... 
Paralelamente, a ajuda estatal deverá ser acompanhada de um plano concreto que minimize o impacto do grupo na economia nacional. A voragem a que a sociedade está exposta por situações destas ou análogas, traduz-se numa instabilidade que a economia simplesmente não consegue aguentar.
Mas é mais que sabido, e a experiência tem mostrado isso mesmo, que no dia em que este triste episódio seja esquecido e a crise seja algo do passado, o banco voltará ao seu frenesim orgiástico de práticas financeiras pouco recomendáveis.
Caso não sejam tomadas medidas concretas para a regulamentação do sector da banca e seguros, mais BES(s), BPN(s) e BPP(s) virão, até que seja impossível sair do buraco criado. Interessa também uma entidade fiscalizadora eficiente e que não sofra de "miopia financeira"...