Esta era a declaração política que tinha preparado para a 2.º Assembleia do LIVRE, realizada no dia 21 de Junho de 2014. Reflecte a minha posição face aos recentes acontecimentos internos e vincula apenas a minha pessoa e mais ninguém:
É minha firma
convicção de que todos aqui somos livres. Quanto à questão de sermos LIVRE, com
maiúsculas e tudo, isso já tenho sérias dúvidas… Mas eu ignorante e
inexperiente me confesso. Talvez até um pouco tosco… Costumo identificar-me
como um taberneiro com alma de passarinho. E se calhar não consigo visualizar
tão longe como as minhas asas alcançam. No entanto, hoje faço ouvir a minha voz,
para dizer tão-somente que sou LIVRE, com maiúsculas e tudo! Sabemos que a
liberdade em toda a sua plenitude, como conceito puro, será sempre uma utopia
e, esta sim, impossível de pôr em prática. Portanto, temos de viver o nosso
dia-a-dia negociando consensos, respeitando assim as liberdade alheias. Isso
também tem de ser verdade no interior do partido. Até porque ele não serve para
ser palco para uma uma espécie de competição de egos. O seu propósito é muito
maior que isso e não se coaduna com agendas pessoais.
O LIVRE tem
uma génese – o Manifesto Por Uma Esquerda Livre – patente nos estatutos no seu
Artigo 2.º. E esse Manifesto teve promotores. Entre eles estão André Barata,
Marta Loja Neves, Renato Miguel do Carmo e Rui Tavares. Todos estão ligados ao
LIVRE e fazem parte dos órgãos partidários. E isto faz todo o sentido. Não
podemos olvidar que são eles (entre outros) os primeiros responsáveis por
estarmos aqui todos neste dia, a fazer política, a discutir o rumo que queremos
para a Democracia. Merecem o nosso maior respeito e admiração e não serem
vilipendiados a cada vírgula que expressam, a cada atitude que tomam.
Os órgãos do
LIVRE foram eleitos em Congresso de 1 de Fevereiro de 2014. Por sufrágio
secreto, sem pressões e, na altura, sem oposição. Em menos de 4 meses trouxeram
mais de 70 mil portugueses à sua órbita, numa época em que se fala na
descredibilização da política e dos seus agentes. Este resultado nas europeias
terá sido uma derrota, no sentido da não eleição de qualquer deputado. Mas pode
e deve, também ser encarado como um dado positivo, pois conseguimos arrancar
70.000 eleitores do sofá, convencendo-os a votar LIVRE. Dos Zero aos Setenta
Mil em menos de 4 meses! Até dava um bom slogan… Mas o que dá acima de tudo é
uma esperança enorme a todos os amadores, ignorantes e inexperientes membros e
apoiantes deste partido.
Não me compete
a mim fazer juízos de valor sobre as pessoas que constituem o Grupo de
Contacto, o Conselho de Jurisdição ou a Assembleia do LIVRE. Deixo para
outros tais empresas. A mim move-me tanto a urgência, como os princípios do
LIVRE. Já o disse e repito que revejo-me e comprometo-me com todos os
documentos emanados do LIVRE e votados pelas suas bases. Nem poderia ser doutra
forma. O dever de camaradagem a isso me impele. Estas são as regras que eu
aceitei, para entrar neste jogo. Mesmo quando voto vencido tenho de ficar ao
lado do LIVRE, por uma questão de princípio. Quem não está disposto a fazer
este tipo de cedências terá de fazer um exercício de auto-crítica e
aperceber-se do projecto que decidiu abraçar. Ninguém disse que a democracia
interna iria ser fácil. Neste ponto tenho uma posição moderadamente radical.
Assim,
e partindo do pressuposto que o LIVRE continuará fiel aos seus pilares
constituintes: Liberdade, Esquerda, Europa, Ecologia; continuarei com certeza a
sentir-me bem num partido onde, espante-se, se sufragam Estatutos e Programas
Políticos. Após essa aprovação, essa letra deverá fazer lei entre camaradas.
Não pode haver um 2.º caminho nesse ponto. A abertura é total na execução dos
documentos, mas depois de emendados, corrigidos e votados, terão de ser respeitados
por todos. É claro que haverá sempre espaço para melhorar e enriquecer um ou outro
documento. Mas alterações plausíveis deverão ser tratadas da mesma forma. Não é
vociferando que isto está tudo mal que poderemos chegar a um qualquer consenso
e melhorar as nossas posições. Não é exigindo “respostas musculadas” ao Grupo
de Contacto sobre todo e qualquer assunto, e o seu contrário em vários casos em
que comunicados são exarados, que se fortalecerá o LIVRE aos olhos dos
eleitores. Até porque o partido aparece com o intuito de tentar a convergência
à Esquerda e não criar mais ruído ainda. Neste aspecto sou radicalmente
moderado.
Chegados
aqui hoje percebemos que o LIVRE é de TODOS. Lá fora começam a vislumbrar essa
realidade. É um partido feito entre iguais, ao contrário da imagem elitista que
nos tentam colar, onde ninguém deverá arremessar o seu canudo a um camarada. É
um partido que quer ter uma “relação honesta com o conhecimento” (Carlos
Teixeira o diz), mas que deve aplicar igual nível de honestidade nas relações
internas de camaradagem. O convívio deverá ser sensato e cordial, que não é o
mesmo que dizer que nos devemos pautar pela falsidade e hipocrisia. Não! As
críticas são para ser feitas em local próprio, olhos nos olhos. Deste processo
surgem invariavelmente soluções mais ricas e duradouras. Por o LIVRE ser de
TODOS, deixou de ser aquilo que nunca foi – o partido do Rui Tavares. Desculpa-me
camarada, mas esse barco já zarpou e estou certo que não deixa qualquer espécie
de saudosismo em ti. O LIVRE é um partido, como já disse que não se revê nesta
lógica de liderança. Não é do Rui Tavares, tal como não poderá vir a ser de ninguém.
O LIVRE é a “Cantiga da Rua” do espectro político nacional. Não pode ser um
veículo para propalar ambições pessoais. É democrático
demais para sofrer com estes tipos de tacticismos. O LIVRE tem órgãos próprios
e estruturas eleitas. É dirigido por uma equipa de 15 pessoas, denominada por
Grupo de Contacto. Fizeram, fazem e farão o seu melhor em prol do partido e essencialmente
do que ele representa. Dir-me-ão que o seu melhor não é suficiente. Respondo
que o tempo será o melhor juiz nessa matéria. Quando chegar ao fim do seu mandato,
o Grupo de Contacto será sufragado pelo trabalho que desenvolveu e nós seremos
os avaliadores. Por isso sou frontalmente a favor de um Congresso Ratificativo
que legitime as decisões tomadas democraticamente e frontalmente contra um
Congresso Electivo que atrase a implantação do LIVRE na sociedade.
Alguém
já me disse que o grande problema do LIVRE é a sua enorme abertura.
Efectivamente, a sua maior virtude poderá ser também o seu maior defeito. Mas
eu acredito, e quero continuar a fazê-lo, que estou entre pares. Quero
continuar a acreditar que os camaradas que aqui estão põem o interesse do
LIVRE, acima do seu interesse pessoal. Quero continuar a acreditar que
ambicionamos para o país, mais e melhor Portugal. Por continuar a acreditar em
tudo isto, e estar firmemente convicto que o LIVRE é um projecto de superior
interesse nacional, eu não trocaria a nossa forma de fazer política por nada!
Viva
o LIVRE!
Montijo, 19 de
Junho de 2014
Miguel Dias
Muito bem Miguel. saudações LIVRES's
ResponderEliminarApoiado.
ResponderEliminarRui Costa Lopes