“Os homens não têm de ser verdadeiros, têm de fazer sentido.”
O subtítulo está entre aspas porque não é meu… É uma frase “roubada” a André Barata, constante na sua obra Intimigrafia. Não conseguiria de forma alguma transcender-me a tal ponto, pois sou demasiado mundano e agarrado à realidade.
Embora numa primeira leitura esta
máxima me parecesse desprovida de lógica, numa observação mais atenta reconheci-lhe
uma coerência própria. Com efeito, a descodificação deste conceito leva-me à
conclusão de que os homens (ou mulheres) deverão ou ser verdadeiros ou fazer
sentido. Dificilmente os homens que forem verdadeiros não farão sentido, pois é
algo inato à própria condição. Mas fazendo sentido não quer obrigatoriamente
dizer que serão verdadeiros. Até na falsidade pode haver coerência…
Na sociedade actual pululam os
exemplos em que não é respeitada nenhuma destas regras. A incoerência é tomada
como uma espécie de placebo para todos os males. Os diferentes pesos
normalmente usados para quantificar problemas análogos fazem multiplicar a
quantidade de balanças, embora a unidade de medida seja invariavelmente a mesma
– a violência. Venha ela na forma física ou verbal.
Se na sua forma física, a violência
tem sido criticada pela generalidade da sociedade, já a forma verbal é
estranhamente tolerada. Talvez no medo constante da cartada da censura ser
lançada sobre a mesa. Mas a condescendência com este tipo de reacção faz-nos
cúmplices do acto vil que é perpetuado.
O combate ideológico é nobre. O
confronto de questões e soluções é fulcral na criação de modelos abrangentes
que visem o progresso social. Mas até que ponto a opinião vazia, o discurso
desprovido de conteúdo pode ser encarado como positivo num debate que se quer
profícuo? Será realmente correcto apelidar de censura o apontar o dedo a estes “sabotadores”
ideológicos? A sua retórica resvala invariavelmente para o populismo, a
demagogia, o ataque pessoal. Esse é um péssimo serviço à Democracia e um
atentado à Liberdade de Expressão.
A violência verbal é, provavelmente,
aquela que mais agride. Não falo somente dos impropérios ou injúrias. Com o
ataque pessoal é fácil lidar – meter para as costas e continuar o caminho. Agora
com o afrontamento ao intelecto por parte do vazio, com a passagem de certificados
de ignorância, com a ostentação de uma pretensa superioridade intelectual, já
se torna mais difícil. É fundamental parar este discurso verborreico. Pactuar
com estes actos não deve fazer parte da filosofia de vida de alguém, por mais
que digam que se comprará mais guerras do que se tirará proveitos. Aguentar
pacificamente estas atitudes, não é uma opção. Desmascarar a mentira e enfrentar
a incoerência deverá ser uma preocupação de toda a sociedade.
Aqueles que eternizam uma
discussão até ao fastio sem apresentarem ideias ou tão-somente um fio condutor,
nada contribuem para o esclarecimento das inúmeras questões com que a sociedade
moderna se depara. Desta forma, violam os princípios do debate honesto e
enriquecedor. Estamos perante pessoas que se pautam por uma conduta que
certamente não é verdadeira e muito menos faz sentido. Não respeitando qualquer
das categorias enunciadas, que espaço poderão ocupar na condição humana?
15 de Agosto de 2014
Miguel Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário