Não sei se tenho urgência, se
tenho decência ou nenhuma das duas. O que sei é que não posso mais assistir
impávido e sereno, enquanto esta corja afunda fundo no meu bolso e leva o resto
da minha dignidade. Há tempo demais que me andam a explicar que vivo muito
acima das minhas possibilidades. Por isso mesmo diminuíram o meu salário,
aumentaram os impostos e cortaram as prestações sociais. E eu “ajustei”. Nem
tanto à grande e à francesa; mais à bruta e à alemã! E é incrível como isto tem
facilitado o cumprimento escrupuloso dos meus compromissos nos últimos anos.
Estou certo que com a maioria de
nós aconteceu o mesmo. Poderá ser este o tal milagre económico que algumas
vozes alvitram? Ou se calhar somos todos personagens daquela famosa série “A
vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor!”
De indicadores que nada indicam
estamos todos fartos. Foram discursos vazios e promessas vãs que nos conduziram
ao actual labirinto. Um labirinto onde seguimos o ténue cheiro a queijo, fazendo
o caminho que nos está a ser traçado pelos interesses instituídos e pelos mais
ricos da “estranhamente solidária” União Europeia.
Mas há alternativa! Há sempre
alternativa. Forçar as paredes do labirinto e encarar a liberdade. Este esforço
tem de ser conjunto, pois não é fácil encarar a liberdade. Não é simples
descobrir que temos escolha. Que a ideia que nos vendem do fatídico caminho
único e austero pode ser sempre contraposta pela ideia do caminho mais
solidário. O caminho onde os mais fortes ajudam os mais fracos; em que lhe
lançam a mão amiga ao invés de uma bota cardada…
Este terá de ser o caminho que
levará os PIGS a saírem da pocilga da crise e da austeridade em que se vêm atolados.
O tempo em que estes concertam uma estratégia comum, para um rumo alternativo
da União. A hora em que se contrapõe o crescimento sustentável ao desmesurado;
o momento em que finalmente se compreende que a defesa de todos os europeus, da
sua dignidade, é mais importante do que os lucros de 3 ou 4 multinacionais.
Não sei se tenho urgência, se
tenho decência ou nenhuma das duas. Sei que o tempo de começar a fazer alguma
coisa já passou. Sei também que nos iniciámos com ele e que temos feito o nosso
percurso incansavelmente. Também sei que somos poucos e precisamos que muitos
mais se juntem a nós; todos os que partilham da ideia que é necessária uma onda
de fundo progressista para abalar os alicerces destas políticas suicidárias.
Pelos vistos até sei algumas coisas… Mas tenho plena consciência de que é muito
mais o que desconheço. Por isso preciso, precisamos, desta União. Deste grupo
que nos permite elaborar uma alternativa credível baseada na salvaguarda de
cada indivíduo, almejando uma Europa mais solidária, um crescimento
ambientalmente responsável e um entendimento bem claro que ser de Esquerda é
amar a liberdade e defender a humanidade; e entender que a necessidade de
circunstância, nunca poderá comprometer a substância. Para que cessem, de uma
vez por todas, os roubos de dignidade…
Montijo, pela manhã do dia 25 de Outubro de 2014
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