sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Mudar a mudança

A Mudança?! A Mudança começa hoje. Bom, amanhã o mais tardar… Talvez para a semana. Daqui por 15 dias a um mês no máximo. Na realidade, agora não é boa altura; mete-se as férias… Depois vem o regresso da escola e a lufa-lufa com as crianças. E num saltinho estamos no Natal e no período das festas. Provavelmente para o ano poderemos reflectir melhor sobre o assunto.
E é assim que a coisa vai, com a ideia que a mudança está ali ao virar da esquina, mas que é meio abstracta, pelo que as pessoas ou não a conseguem avistar ou não a detectam. Eu não embarco nesta metáfora que nos tentam vender de que a mudança vem a caminho. Para mim, e para a maioria do povo, é bem notório que a mudança já está entre nós. E nós sentimos na pele e aguentamos esta infâmia, primeiro com os PEC’s e depois com a Troika.
A mudança é a subversão do que Abril tem construído ao longo de 4 décadas. A austeridade que se abateu sobre nós, sob o estalar do chicote da coligação, tem aos poucos estrangulado os nossos direitos e contribuiu sobremaneira para o definhamento de uma economia que já de si não era nada robusta.
“Mas o país está muito melhor”. Pelo menos é o que defende um Monte Obscuro e um qualquer indivíduo que ainda agora chegou e que ninguém sabe ao certo o seu papel, para além de insultar as instituições democráticas do país com uma ironia insalubre. Falo evidentemente do indivíduo que conjuga no nome uma peça de loiça com a capital do Perú, que não se cansa de espalhar aos quatro ventos o milagre económico português. São as exportações, estúpidos! Grita ele do alto da sua própria ignorância. Não consegue entender tampouco que se as exportações subiram, muito se deve à estratégia de sobrevivência dos próprios empresários, extinto que foi o consumo interno. As desigualdades aumentaram barbaramente e há cada vez menos pessoas com dinheiro. E aí, por muitos Passos de mágica que se possam fazer ninguém conseguirá tirar um Coelho da cartola, nem se vislumbram Portas de saída deste modelo económico sisudo.
As nuvens cinzentas não se dissiparam. Elas estão bem presentes nas sombrias almas dos indigentes, das mães que levam os filhos de barriga vazia para a escola, dos precários que esticam os trocos para honradamente fazerem face aos compromissos, dos desempregados que perderam a esperança, dos doentes que vêm vedado o acesso a tratamento, do terço das crianças e jovens em risco de pobreza, dos reformados que recebem uma esmola em lugar da pensão e de todos os trabalhadores em geral que vêm a sua dignidade laboral ser delapidada dia após dia… Desafio a nossa classe dirigente a olhar nos olhos dessas pessoas. Logo perceberão que estas chovem por dentro!
Se isto é a mudança, eu dispenso! Rejeito-a. Devolvo à procedência. Só estarei em consciência com um modelo progressista, com uma preocupação marcadamente social, que não deixe cair as pessoas ao mar, vítimas da tempestade austera que se abateu sobre o país. Sim, porque os países e suas economias têm pessoas lá dentro. Não apenas entidades ou instituições, mas pessoas de verdade. Com necessidade, mas também com aspirações e anseios. E quando este Governo fala em reduzir a despesa, como uma metáfora para cortar prestações sociais, reformas e salários, é essencial afirmar que no fundo falamos da redução drástica do poder de compra da população, que muitas vezes chega á fasquia do incumprimento ou da fome, bem como da mutilação dos seus sonhos e desejos.
É ao povo descrente e anónimo, ao povo que deixou de sonhar, que dedico estas linhas. A todos os que não encontram quem os represente e defenda. No Movimento Tempo de Avançar, que constituirá uma Candidatura Cidadã às próximas legislativas com base num processo de primárias abertas, no qual qualquer cidadão que se reveja nos princípios orientadores subscrevendo a Convocatória pode participar, encontrarão um porto de abrigo. A participação pode ser feita elegendo os candidatos de sua preferência para a ordenação das Listas a cada círculo eleitoral, ou propondo-se como candidato. Todas as pessoas que julgam ter algo a acrescentar ao panorama nacional têm aqui uma oportunidade para difundir as suas ideias, sem estar à espera das boas graças da distrital de um qualquer partido ou do habitual convite para compor as listas.
O trajecto que completei nos últimos tempos trouxe-me aqui, cidadão anónimo e vazio de presunção, não pela procura de qualquer espécie de protagonismo, mas pela procura de respostas. Eu não quero um palco, quero alguém que projecte a minha voz. Encontrei neste Movimento o equilíbrio perfeito entre os anseios do povo e as necessidades do país. Desejo crescimento económico, mas sustentado e sustentável, na medida em que o mesmo deve ser consistente, e não fruto de medidas avulsas e esporádicas, e ao mesmo tempo respeitar os princípios ambientais e de exploração dos recursos naturais. Pretendo um Estado interventivo e que exerça o papel de regulador da economia portuguesa e que não seja um mero espectador. Caso contrário, que sentido faz indigitar Governos? Necessito que se devolvam os direitos aos trabalhadores e a dignidade ao trabalho. Pretendo que os reformados deixem de ser esbulhados dos seus rendimentos, fruto de vidas dedicadas ao trabalho e à construção deste país. Exijo um Estado Social, garante dos valores constitucionais, que atenue as desigualdades gritantes fazendo a redistribuição da riqueza gerada, mas que tenha também um papel preventivo, arquitectando uma pré-distribuição que evite que uma criança ou um idoso passe fome, por um simples dia que seja.
As respostas a estas preocupações encontram-se neste Movimento que converge diferentes sensibilidades, mas com um objectivo comum. A constituição de uma alternativa que sirva para desbloquear o impasse folclórico da Esquerda e possa viabilizar, caso o eleitorado assim o entenda, uma solução governativa. Esta terá de ser exaustivamente discutida e debatida, ponto por ponto. Terá de ficar plasmada para conhecimento público e não deve conter uma única palavra que duvidemos conseguir cumprir.
Tempo demais estamos coligados no insucesso. Agora é o momento. É Tempo de Avançar! Os anos de Austeridade, de retrocesso civilizacional, deverão funcionar como um farol, para nos lembrar que não queremos voltar a esta época medonha.
Avancemos então… Sem medos!

Montijo, 13 de Janeiro de 2015
Miguel Dias
Promotor do Tempo de Avançar

Membro do LIVRE

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