A Mudança?! A Mudança começa
hoje. Bom, amanhã o mais tardar… Talvez para a semana. Daqui por 15 dias a um
mês no máximo. Na realidade, agora não é boa altura; mete-se as férias… Depois
vem o regresso da escola e a lufa-lufa com as crianças. E num saltinho estamos
no Natal e no período das festas. Provavelmente para o ano poderemos reflectir
melhor sobre o assunto.
E é assim que a coisa vai, com a
ideia que a mudança está ali ao virar da esquina, mas que é meio abstracta,
pelo que as pessoas ou não a conseguem avistar ou não a detectam. Eu não
embarco nesta metáfora que nos tentam vender de que a mudança vem a caminho.
Para mim, e para a maioria do povo, é bem notório que a mudança já está entre
nós. E nós sentimos na pele e aguentamos esta infâmia, primeiro com os PEC’s e
depois com a Troika.
A mudança é a subversão do que
Abril tem construído ao longo de 4 décadas. A austeridade que se abateu sobre
nós, sob o estalar do chicote da coligação, tem aos poucos estrangulado os
nossos direitos e contribuiu sobremaneira para o definhamento de uma economia
que já de si não era nada robusta.
“Mas o país está muito melhor”.
Pelo menos é o que defende um Monte Obscuro e um qualquer indivíduo que ainda
agora chegou e que ninguém sabe ao certo o seu papel, para além de insultar as
instituições democráticas do país com uma ironia insalubre. Falo evidentemente
do indivíduo que conjuga no nome uma peça de loiça com a capital do Perú, que
não se cansa de espalhar aos quatro ventos o milagre económico português. São
as exportações, estúpidos! Grita ele do alto da sua própria ignorância. Não
consegue entender tampouco que se as exportações subiram, muito se deve à
estratégia de sobrevivência dos próprios empresários, extinto que foi o consumo
interno. As desigualdades aumentaram barbaramente e há cada vez menos pessoas
com dinheiro. E aí, por muitos Passos de mágica que se possam fazer ninguém conseguirá
tirar um Coelho da cartola, nem se vislumbram Portas de saída deste modelo
económico sisudo.
As nuvens cinzentas não se
dissiparam. Elas estão bem presentes nas sombrias almas dos indigentes, das
mães que levam os filhos de barriga vazia para a escola, dos precários que
esticam os trocos para honradamente fazerem face aos compromissos, dos
desempregados que perderam a esperança, dos doentes que vêm vedado o acesso a
tratamento, do terço das crianças e jovens em risco de pobreza, dos reformados
que recebem uma esmola em lugar da pensão e de todos os trabalhadores em geral
que vêm a sua dignidade laboral ser delapidada dia após dia… Desafio a nossa
classe dirigente a olhar nos olhos dessas pessoas. Logo perceberão que estas
chovem por dentro!
Se isto é a mudança, eu dispenso!
Rejeito-a. Devolvo à procedência. Só estarei em consciência com um modelo
progressista, com uma preocupação marcadamente social, que não deixe cair as
pessoas ao mar, vítimas da tempestade austera que se abateu sobre o país. Sim,
porque os países e suas economias têm pessoas lá dentro. Não apenas entidades
ou instituições, mas pessoas de verdade. Com necessidade, mas também com
aspirações e anseios. E quando este Governo fala em reduzir a despesa, como uma
metáfora para cortar prestações sociais, reformas e salários, é essencial
afirmar que no fundo falamos da redução drástica do poder de compra da
população, que muitas vezes chega á fasquia do incumprimento ou da fome, bem
como da mutilação dos seus sonhos e desejos.
É ao povo descrente e anónimo, ao
povo que deixou de sonhar, que dedico estas linhas. A todos os que não
encontram quem os represente e defenda. No Movimento Tempo de Avançar, que
constituirá uma Candidatura Cidadã às próximas legislativas com base num
processo de primárias abertas, no qual qualquer cidadão que se reveja nos
princípios orientadores subscrevendo a Convocatória pode participar,
encontrarão um porto de abrigo. A participação pode ser feita elegendo os
candidatos de sua preferência para a ordenação das Listas a cada círculo
eleitoral, ou propondo-se como candidato. Todas as pessoas que julgam ter algo
a acrescentar ao panorama nacional têm aqui uma oportunidade para difundir as
suas ideias, sem estar à espera das boas graças da distrital de um qualquer
partido ou do habitual convite para compor as listas.
O trajecto que completei nos
últimos tempos trouxe-me aqui, cidadão anónimo e vazio de presunção, não pela
procura de qualquer espécie de protagonismo, mas pela procura de respostas. Eu
não quero um palco, quero alguém que projecte a minha voz. Encontrei neste
Movimento o equilíbrio perfeito entre os anseios do povo e as necessidades do
país. Desejo crescimento económico, mas sustentado e sustentável, na medida em
que o mesmo deve ser consistente, e não fruto de medidas avulsas e esporádicas,
e ao mesmo tempo respeitar os princípios ambientais e de exploração dos recursos
naturais. Pretendo um Estado interventivo e que exerça o papel de regulador da
economia portuguesa e que não seja um mero espectador. Caso contrário, que
sentido faz indigitar Governos? Necessito que se devolvam os direitos aos
trabalhadores e a dignidade ao trabalho. Pretendo que os reformados deixem de
ser esbulhados dos seus rendimentos, fruto de vidas dedicadas ao trabalho e à
construção deste país. Exijo um Estado Social, garante dos valores
constitucionais, que atenue as desigualdades gritantes fazendo a redistribuição
da riqueza gerada, mas que tenha também um papel preventivo, arquitectando uma
pré-distribuição que evite que uma criança ou um idoso passe fome, por um
simples dia que seja.
As respostas a estas preocupações
encontram-se neste Movimento que converge diferentes sensibilidades, mas com um
objectivo comum. A constituição de uma alternativa que sirva para desbloquear o
impasse folclórico da Esquerda e possa viabilizar, caso o eleitorado assim o
entenda, uma solução governativa. Esta terá de ser exaustivamente discutida e
debatida, ponto por ponto. Terá de ficar plasmada para conhecimento público e
não deve conter uma única palavra que duvidemos conseguir cumprir.
Tempo demais estamos coligados no
insucesso. Agora é o momento. É Tempo de Avançar! Os anos de Austeridade, de
retrocesso civilizacional, deverão funcionar como um farol, para nos lembrar
que não queremos voltar a esta época medonha.
Avancemos então… Sem medos!
Montijo, 13 de Janeiro de 2015
Miguel Dias
Promotor do Tempo de Avançar
Membro do LIVRE
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