As coisas estão a
mudar. Se calhar não tão rapidamente como desejávamos. Mas o nosso Portugal tem
uma velocidade diferente. Quase como se o tempo tivesse uma dimensão paralela
neste cantinho. Mas as diferenças vão-se notando, entre os agentes políticos e
essencialmente nos seus discursos.
Ao que parece o
monopólio da propaganda, que outrora se afirmava ser pertença do PCP, embora eu
julgue que é uma percepção abusiva, deslocou-se para o centro e direita
partidária. Com efeito, os chamados partidos do arco da (des) governação, na
generalidade coincidente com o arco da corrupção, apropriaram-se da retórica
vazia de conteúdo e plena de sound bytes. Temos sido inundados por pérolas do
género. Desde o milagre económico, ao país está melhor os portugueses é que
não, tudo serve para manter as pessoas na eterna expectativa. O suspense
político é uma arma normalmente utilizada pelos que depois de esgotadas todas
as ideias e nenhuma resultar, não sabem mais o que fazer.
Como é possível,
por exemplo, que se fale de coesão social num país onde a austeridade brutalizou
o contracto social. A relação de confiança entre cidadão e Estado está ferida
de morte. E isto não é exclusivo das classes mais desfavorecidas. Também na
classe média e mais abastada se sente uma profunda decepção pelo caminho
escolhido por este Executivo.
O problema é que
a jusante, nada de novo… O actual líder do PS elabora discursos com grande
nível de erudição e cheios de opacidade. Com o nível exacto de cinzentismo para
não se comprometer com nada. É difícil levar a sério um líder da oposição que
apenas diz que não vai fazer como o Governo e que a austerirdade não presta,
nunca concretizando uma alternativa. Isto leva-nos a pensar que quando ocupar a
cadeira do poder será mais do mesmo com algumas nuances…
Pior é que os
meios de comunicação social fazem eco deste vácuo. Minam os seus painéis de
comentadores com figuras do “centrão”. E mesmo os debates televisivos estão
sempre pejados destas individualidades, salpicados aqui e além com alguém da
real alternativa política. Foi o que aconteceu por exemplo no programa “Expresso
da Meia-Noite”, na última sexta-feira dia 20 de Fevereiro de 2015 na SIC
Notícias. Com o destacado Duarte Pacheco entre o painel, assistiu-se a uma
autêntica acção de propaganda política, na defesa leal de um Governo que, em
tempos de Democracia, atacou como nenhum outro a dignidade dos cidadãos. Na
realidade, quase a totalidade do painel se uniu contra o discurso de inverdades
desse senhor, que repetia incessantemente a meia dúzia de medidas que este
Governo tomou para resolver o estado problemático a que o país chegou e cuja
maioria ainda não deu provas de resultar (e que certamente nunca dará). A este
estado de catarse, Ana Drago simplesmente observa algo semelhante a: “pronto
não vale a pena; isto é como estar a falar com um placard”.
E é isso mesmo!
Falar com estas pessoas ou com uma parede é exactamente a mesma coisa. Perdão,
é muito pior… Pois as paredes, embora possam ostentar placards, não estão
imbuídas de um fundamentalismo ideológico que redundou num fracasso em toda a
linha, mas que esta pandilha insiste em aplicar. O povo, esse, leva com o
placard a torto e a direito, como se merecesse alguma espécie de castigo pelas
decisões políticas erradas dos sucessivos governos…
Mas a
característica primordial de qualquer placard é que não replica, deixando sem resposta
os anseios da população portuguesa. E mais tarde ou mais cedo, as pessoas vão-se
fartar de falar com as paredes.
Montijo, 21 de Fevereiro de 2015
Miguel Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário