sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Os 10 000


Dez mil... Esperem o número assim escrito não transmite a sua verdadeira grandeza. Vou tentar de outra forma: 10 000. Não. Mesmo assim não lhe faz justiça. Talvez 10 000 pessoas?! Sim isso mesmo, 10 000 pessoas; 10 000 portugueses, grande parte jovens licenciados. Esse é o número de cidadãos nacionais que saem todos os meses do país, para tentarem a sua sorte lá fora. E como até agora ainda ninguém se aprontou a negar este indicador parto do princípio que este número é fidedigno.
O surto que agora ocorre não é virgem. Já nos idos de 60 do século passado, o país deparou-se com uma onda emigratória, onde o povo fugia de um futuro já traçado de fome e miséria por aquela longa noite negra que durou 48 anos. Encarava a incerteza com uma mão cheia de sonhos e na outra uma mala de cartão. Hoje os jovens que saem levam a mesma mão cheia de sonhos, mas na outra transportam um canudo. O grau académico que será a sua porta de entrada no mercado de trabalho global. E todos os dias, quem fica, vê partir os melhores da sua geração. Aqueles que poderiam realmente fazer a diferença, contribuindo para um país mais desenvolvido e, quem sabe, mais justo.
É compreensível que as nossas esperanças estivessem depositadas na geração que agora se situa entre os 20 e os 40 anos, pois esta é a geração mais qualificada que alguma vez tivemos. Os diplomas que ostentam foram alicerçados no nosso sistema de ensino e no investimento de todo um país. As próprias famílias investiram e muito na formação dos seus, tentando apetrechar estes com as ferramentas que nunca tiveram. Convencidas que estavam de que, com o amadurecimento da Democracia, o conhecimento e o mérito passassem a ser reconhecidos como atributos essenciais para o desenvolvimento do país. O pior de tudo é que esta leva de emigração não tenciona voltar. Esta geração não faz planos. Saí amargurada com uma sucessão de governos que lhes virou as costas e a abandonou no desemprego, mas que antes a fez passar por estágios não remunerados, recibos verdes e contratos precários.
Evidentemente que o fenómeno do desemprego jovem não é um exclusivo nacional. Em toda a Europa esta taxa é também elevadíssima. Não tenho dúvidas que esta enorme barreira na inserção dos jovens no mercado laboral é em larga medida ditada por uma geração mais velha, aburguesada no poder e que conta com o apoio dos grandes interesses instituídos, graças a uma subserviência intrínseca, que lhe amputou a coluna vertebral mas que lhe valeu umas quantas prateleiras douradas. É também fruto de políticas económicas e de emprego erradas, em que o imediatismo é favorecido em detrimento do sustentável. Quem aponta este rumo não consegue perceber que uma visão sustentável ditará, a médio e longo prazo, um crescimento muito maior e mais eficiente.
A perda para Portugal desta população jovem vai criar um gigantesco problema futuro. Num país já de si envelhecido, a saída daqueles que deveriam agora “iniciar” a sua vida adulta, entrando no mercado de emprego, estabelecendo morada, tendo filhos, contribuindo desta forma para a necessária renovação geracional, bem como incentivando a própria procura interna, será a médio prazo um rude golpe, podendo mesmo, em última análise, abrir um “buraco etário”.
Para a nação poder ter um futuro é essencial inverter o quanto antes esta situação. Caso tal não suceda deixaremos de herança às gerações vindouras um país pobre a todos os níveis – social, económico e cultural.

Miguel Dias
29 de Novembro de 2013

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