Frequentemente
lá me perguntam o que é que consideraria um bom resultado para a
candidatura cidadã LIVRE / TEMPO DE AVANÇAR no círculo eleitoral
de Setúbal. Respondo o óbvio... Um bom resultado seria ganhar.
Depois pedem-me para ser realista. Aí replico que a realidade é o
que se tem passado por essa Europa fora, com novos partidos e novas
lógicas organizativas, que têm conquistado votos e até ganho
eleições. No nosso cantinho é que ainda vivemos na ilusão. E ao
que parece não queremos acordar.
Recentemente,
mais um choque de realidade nos tentou despertar. A taxa de
desemprego voltou a subir para cima da barreira dos 14% no mês de
Fevereiro. Descobrimos ainda que afinal a taxa adiantada pelo INE
relativa ao mês de Janeiro era erradamente optimista e não por um
ou duas décimas, mas por 0,5%. Para os mais incautos relembre-se que
se estivermos a falar de uma população activa de, grosso modo, 5
milhões de indivíduos, esses 0,5% correspondem a 25.000 pessoas.
Para além disso também se descobriu que o desemprego não diminuí
de Dezembro de 2014 para Janeiro de 2015, ao contrário do que foi
anunciado na altura. E isto, ao invés de nos acordar, embala-nos
ainda mais nesta dormência ilusória.
O
desemprego jovem, por seu turno, não tem conhecido intermitências
fixando-se em Fevereiro de 2015 nos 35%. Tem sido sempre a subir! O
que não deixa de ser estranho, já que grande parte da nova
emigração é precisamente constituída por jovens em idade activa.
Esta é mais uma faceta de realidade que enfrentamos no “mercado
laboral”.
Acrescem
as recentes alterações de legislação que desvirtuam a contratação
colectiva e aumentam a insegurança no trabalho e a precariedade. A
isto chamam “flexibilidade laboral” e dizem que é bom para a
nossa economia... Tal como a obsessão na descida dos custos
unitários do trabalho, que fez com que as remunerações de muitos
trabalhadores recuassem a valores da década transacta. Voltamos à
máxima Montenegrina “a vida das pessoas não estar melhor, mas o
país está muito melhor”.
Existe
ainda uma enorme fatia de desempregados de longa duração e uma cada
vez maior franja de pessoas que, pura e simplesmente, desistiu de
procurar trabalho. Cedeu à desesperança... E essas, já nem contam
para os números do desemprego. Escusado será dizer que toda esta
tumultuosa relação que o Governo tem com o emprego, a quebra da
contratação colectiva, o aumento da insegurança e da precariedade,
a desvalorização salarial, são factores que pesam muito na
estrutura da segurança social, já de si fragilizada e sempre posta
à prova em alturas de crise. Este é um dos lados perversos da
“flexibilidade laboral”.
Em
suma, fica aqui patente uma das parcelas da nossa realidade, do nosso
quotidiano. Um dos exemplos que esta austeridade nada tem de rigor,
mas transborda terror social. No entanto, há uma resistência enorme
em percepcionar a realidade pela maior parte de nós. Talvez tal
posição se deva ao receio que temos de que ao renegar a ilusão a
que estamos subjugados, a realidade nos possa apanhar. E como diz o
escritor Mário de Carvalho – “a realidade é muito absurda”.
Mas continuar a viver num estado de dormência, apenas desejando com
todas as forças que a realidade não nos desperte, qualquer dia pode
já não ser suficiente. E aí, talvez tudo se torne ainda mais
absurdo...
Montijo,
2 de Abril de 2015
Miguel
Dias
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