terça-feira, 15 de outubro de 2013

Do absoluto ao relativo

(Sobre o resultado das Eleições Autárquicas, no Concelho do Montijo, escrevi assim:)

O país foi a votos, em todos os concelhos e em todas as freguesias. O Montijo não foi excepção... No dia 29 de Setembro de 2013 escolhemos quem iria governar o Município pelos próximos quatro anos, embora só tivéssemos conhecimento oficial dos resultados no dia seguinte, já a manhã se tornava tarde.
A meu ver foi dado um claro sinal pela população, que não iria mais pactuar com a política de arrogância praticada pelo executivo PS. A mesma política que arrastou todo o território para um abandono generalizado. Por isso foi retirada a maioria absoluta a que a anterior administração camarária estava tão habituada. 
Pela mesma ordem de razão, o voto não passou para o lado da bipolaridade política, isto é do PSD, pois o povo discerniu atempadamente que a senhora que se apresentava para conduzir os destinos do concelho e que prometia um desenvolvimento estonteante e um apoio social sem precedentes, é a mesma que se senta na bancada parlamentar desse partido e que suporta o actual Governo nacional, votando dia após dia as medidas que empobrecem este país e castigam o poder local. Por muito que apontem, quase em desespero de causa, a diferença entre eleições locais e legislativas, todos nós sabemos a agenda que marca a ideologia de direita presentemente no país, como inclusivamente inúmeros simpatizantes dessa facção criticam publicamente. As pessoas sentem na pele as acções do poder central, que se repercutem também nas Autarquias, pois estas não são células estanques.
Por isso o povo optou pela mudança. É certo que o executivo continua nas mãos do mesmo partido político, mas agora com menos 4.000 votos (passaram de 8.952 votos em 2009, para 4.726 nestas eleições) e menos um vereador, o que se traduz num equilíbrio de forças na Câmara Municipal, com 3 vereadores para o PS, 2 para a CDU e 2 para o PSD. O absoluto tornou-se agora relativo. Com esta nova realidade, as medidas camarárias terão de ser realmente discutidas e negociadas. Deverão ser encontrados consensos, o que em última análise favorecerá o povo montijense. Acredito que é possível governar para todo o Concelho e não somente para alguns. Basta para isso que o PS desça do seu altar absoluto e discuta as suas opções, devendo também ouvir, ao invés de pura e simplesmente ditar. É urgente arrepiar caminho e começar a pensar Montijo!
Logicamente que, para quem votou na verdadeira mudança, como é o meu caso, não se poderá esconder um certo amargo de boca pelo resultado do escrutínio. Efectivamente, um novo paradigma esteve apenas a 426 votos de distância. Mas quem diria, quando a campanha começou, que a CDU passaria a segunda força mais votada e que poderia estar tão perto de libertar o Montijo. E só não se concretizou graças ao populismo que continua a grassar no panorama político e que encontra terreno fértil em meios pequenos como o nosso. Meios onde o medo facilmente se instala nas comunidades.
Não posso deixar de reflectir sobre os números da abstenção no Concelho – 60%... Não se iludam! Nada é garantido! E temos exemplos diários do assalto a direitos que dávamos como adquiridos. As conquistas de ontem são os cortes nas “gorduras” de hoje e os ajustamentos inevitáveis de amanhã. É uma grande responsabilidade viver em Democracia. E essa responsabilidade deve e tem de ser compartilhada por todos. Mais de que um direito, o voto é um dever. Todos devemos escolher. Mas mesmo que hajam grandes dúvidas, optar pela mudança não é necessariamente optar pelo incerto! A abstenção não é um castigo aos políticos nem aos seus partidos. É antes um golpe desferido ao coração da Democracia. A abstenção apenas beneficia os grandes, cujos votos estão sempre garantidos por uma massa acrítica, que mais não deseja do que uma oportunidade de se servir do sistema estabelecido. Se a maioria inerte, que clama pela renovação política à mesa do Café, levanta-se bem alto o seu voto e elege-se as reais alternativas, constantemente minimizadas pelos interesses instituídos, podem ter a certeza que isto mudava...

7 de Outubro de 2013

Miguel Dias

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